quinta-feira, 25 de abril de 2013

VOVÓ É QUEM SABE - Suzana da Cunha Lima



VOVÓ é QUEM SABE
(Uma grande mentira) 
Suzana da Cunha Lima

- Soube de uma história que vocês não vão acreditar, disse Flávio, sentando-se à mesa do jantar, onde estavam sua mulher e filha lhe esperando para começar a refeição.

- Vocês lembram que vovó sempre dizia que éramos descendentes de Pedro I? E a gente não dava atenção, achando que era mais uma fantasia da vovó. . Pois bem, hoje ela nos chamou para tomar chá juntos, todos seus netos, porque queria nos fazer uma grande revelação. E ainda disse que ia apresentar documentos e tudo mais que estava guardado naquele baú no quarto dela, a sete chaves. Ia provar nossa nobre ascendência.

- E por que não nos chamou também, quis saber a mulher dele,  já invocada com a velhinha que, apesar de oitenta e muitos, ainda era, indiscutivelmente, a chefe da família.
- Não sei e não vem ao caso – respondeu o marido – Bom, ela nos  mostrou uma foto de um homem, garboso, certamente um nobre da corte,  pelas vestimentas suntuosas, capa de arminho, dourados e galões, estas coisas. E nos disse que era D.Gastão, um filho ilegítimo de D.Pedro com uma nobre da corte, D.Maria Pia.

Todos sabemos que nosso Imperador era homem fogoso e mulherengo  e deve ter plantado muito filho por aí, sem distinção de classe social. O caso da Marquesa de Santos é célebre, porém Maria Pia era descendente de nobres, culta e viajada,  e pertencia à nobreza.  Este, caso, particularmente, chama atenção porque foi na festa de seu casamento com D.Amélia, princesa da Baviera e segunda Imperatriz do Brasil, isso em 1829, que ele viu e se encantou com D.Maria Pia. Vinte anos mais jovem que ele, bela e altiva, porém já casada há uns três anos e não havia filhos nesse casamento. Foi paixão instantânea, de ambas as partes. E dessa paixão  nasceu um menino, que chamaram de D.Gastão.  Maria Pia fez seu marido acreditar que era dele, evitando o escândalo e a separação.  Tem um monte de cartas contando este caso de amor, algumas com detalhes picantes, que D.Pedro não era homem de muitas finuras.

Bom, nosso Imperador não podia legitimar este filho, porque seria a desgraça de Maria Pia, e mais um motivo da oposição se voltar contra ele. Então ele concedeu a d. Ernesto, marido de Maria Pia,  o título de Conde de Batatais, vitalício e hereditário, assegurando assim a seu filho bastardo, um título e uma renda vitalícia também.  Há documentos no baú sobre este título e também as cartas de despedidas dos dois, pois Maria Pia, marido e o pequeno Gastão foram tomar posse de suas terras em Batatais. E os amantes nunca mais se encontraram.

Aliás, logo depois disso, por volta de 1931, D.Pedro resolveu abdicar em favor de seu filho, o futuro D.Pedro II, e retornou a Portugal, para reaver o trono português, que seu irmão Miguel tinha se apossado, o que só aconteceu em 1934 e foi o ano que ele veio a falecer também.

 Mas isso tudo é história, o que nos interessa é seguir a trajetória de Maria Pia em Batatais. Pelos registros da Igreja e da Maçonaria, que mantém dados muito organizados e verídicos, alguém de nossa família (será que foi vovó?) organizou árvore genealógica desta família até 1960. Verificou que atualmente há três ramos diretos ainda vivos: um morando no Rio, outro em Santo André e outro em Batatais. Este último é muito rico, fizeram dinheiro com as terras herdadas. O nosso ramo deve derivar deste de Santo André e isso vai requerer algumas consultas aos registros existentes.  Vovó acredita que, as cartas falam por si desta história de amor e do nascimento de Gastão, são muito reais. Além disso, mediante os documentos todos que ela possui, cartas, certidões, escritura da terra de Batatais etc., a gente possa requerer, ao menos, uma parte das terras, que dizem ser muito férteis, ou o direito de usar o título. Não sei não, mas foi bom saber que aquelas histórias da vovó são reais. A velhinha continua porreta!

E aqui termina a história
De Pedro e Maria Pia
E seu filho adorado
Quem quiser conteste o fato
Que até saiu no jornal
D. Gastão, mancebo guapo
Foi quem se deu bem, no final.


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