sábado, 6 de abril de 2013

DUAS MULHERES DISCUTEM - Oswaldo Romano




DUAS MULHERES DISCUTEM
Oswaldo Romano



PEÇA INFANTIL             Cenário: Uma Praia, Um Banco.

            Duas cunhadas curtindo férias esparramadas nas espreguiçadeiras de praia, sorvendo o fim dos aperitivos, saboreando a fruta do palito, uma já bem animada lembra quando criança fábulas do Esopo.

            Flavia fala a da baleia contada por sua mãe:

            — Mamãe conta ter ouvido da minha avó.

            — Luci, como eu era boba ouvindo a minha mãe contar fábulas. Quanta coisa eu não entendia, quanto tempo perdido, podia aproveitar melhor essa época com nossas brincadeiras...

            — Flavia, eu não acho que foi tempo perdido. Você enquanto esforçava-se ouvindo, estava na verdade desenvolvendo sua inteligência. Não tivéssemos aqueles momentos infantis, um valioso aprendizado, nosso desempenho na escola teria sido muito pior.

            — Nisso você tem razão. Aquilo ajudou eu ser tolerante, resignada pra tudo, e veja o resultado. Sou a mulher do seu irmão, sofro com a irresponsabilidade dele, tenho paciência, tolero.

            — Não sei por que você vai falar dele agora.

            — Então, fique sabendo o quanto folgado ele é.

            — Você quer dizer que meu irmão é vagabundo?

            — Quase você chegou lá. Não permanece em firma alguma, diz sempre que é para melhor, fica tempo desempregado, e cada  vez traz menos dinheiro para casa. 

Tem trazido uma merreca. Fosse uma merreca a cada três, quatro dias, iria juntar esses mercules e pagar as contas. Mas não. Toda semana tem uma desculpa.

            — Sei, você fala estar tudo ruim, mas está aqui esparramada na cadeira, de férias, nessa linda praia!

            — Foi o meu pai quem ajudou, ajuda em casa, e usei minhas milhas. Ele tem dó de mim. Trabalho muito e faço o possível para suportar a despesa da casa. Meu pai não tem obrigação. A obrigação é do seu irmão que não cumpre.

            — Ora, por favor, me poupe. Milha não dá na estrada. É resultado dos seus exagerados gastos. É fácil compreender, difícil de esconder.

            — Cunhada, a vida nos reserva surpresas. Nossa luta, assim como em todas as famílias é diferente com sentido distinto. De um modo ou de outro temos que nos defender e acomodar essa nossa luta. Os de poucos recursos geralmente sofrem diante de um poder maior.

            Veja esse mar. Lindo, não? Você pode imaginar o que ocorre dentro dele?

            .           — Esse mar para mim é um mistério.

            — É nesse mistério que tem a tal fábula da baleia. Pouco conhecida, guarda no seu contexto desejados ensinamentos.

Incrível, minha mãe quem contava algumas, mas esta nunca esqueci.

            Tinha uma baleia chamada Musa. Era muito, muito grande e sua boca media mais de metro. Quando nasceu, andava no dorso da sua mãe na maior felicidade. A mãe se considerava uma rainha do mar e tinha como melhor amiga a Sereia Diva. Musa recomendou a Diva caso lhe acontecesse algo ruim, tomasse conta da Fé sua filhinha, que ainda pequena, surfa no seu lombo. Tinha medo que lhe acontecesse o mesmo destino do Tauro, seu companheiro. Quando navegavam calmamente, uma enorme máquina, cravando-lhe pontudo ferro, levou-o para sempre.

            Os dias corriam alegres para Musa, o seu bebe Fé crescia, a sereia os acompanhava. Mas o inevitável aconteceu: o bicho homem matou e levou Musa, sua mãe. A sereia compartilhou do sofrimento da Fé, ofereceu mais amor, completou seus ensinamentos.

            Mas, Fé teve um crescimento muito rápido, mal viu passar o tempo, sentiu-se enorme. Quando a sereia era ameaçada, contava com a proteção da Fé, sempre ao seu lado.

            Havia entre elas um grande amor, mas crescia cada dia mais, um grande perigo.
            Abrindo a boca mergulhada junto a um cardume, engolia tonelada de peixinhos. 

A sereia corria um sério risco de a qualquer descuido também ser engolida.

            Diante disso, escondendo seu sofrimento, a Fé expulsou a sereia, mas ela surpresa se recusava partir. Desceram-lhe lágrimas, tanto achava injusta aquela medida. 

Tinha tratado e defendido a Fé quando pequena, órfã, a mercê dos tubarões e outros predadores. Ela, a mais bonita dos mares, impunha seu respeito. Agora... É essa a recompensa. Não adiantava mais pedir para ficar, pois mesmo a Fé aceitando, não seria por amor, seria por dó. Assim, a sereia Diva muito triste, movendo sua enorme cauda, partiu provocando sucessivas ondas de despedidas.

            — Nossa! Nunca ouvi essa fábula!

            — Não mesmo, tempos depois soube que a mãe inventava.

MORAL DA HISTÓRIA
MESMO AMANDO MUITO, COM MUITA DOR NO CORAÇÃO EXPULSAR UM SER AMADO, NEM SEMPRE É COMETER TRAIÇÃO.

roma@romano.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário