domingo, 14 de abril de 2013

UMA ESCALA DO NAVIO “MAR ÚGGI” NO PORTO DE BELÉM DO PARA - Oswaldo Romano




 UMA ESCALA DO NAVIO “MAR ÚGGI” NO PORTO DE BELÉM DO PARA
     Oswaldo Romano

            O navio “MAR ÚGGI” vinha do porto de Bolonha para a América do Sul, acontecendo sua primeira escala em Belém do Pará.

            Desenrolava a bordo, parte de um filme documentário que o cineasta Barreto produzia para a Rede Piva.

            Cinquenta artistas participavam do elenco. Entre os passageiros havia muitos jogadores de baralho, mas apenas quatro se representavam  profissionais do pôquer.

            Todos tinham conhecimento das habilidades artísticas do grupo. Todavia, jogo ganha-se jogado. O cacife era alto. Inicial de 2 mil dólares cada. Na primeira noite, já era madrugada quando terminou o tempo da hora marcada, e ao fechar a caixa, o balanço era de não assustar ninguém.      O objetivo de cada um era tentar aplicar o Golpe de Mestre.

            Na escala do navio em  Belém do Pará, embarca o Láu, exímio jogador de pôquer, já conhecedor desta rota e a fazia regularmente com vistas ao jogo. Há tempos esse era seu rendimento, pois confiava na sua habilidade. Desconhecia que desta vez faziam um filme a bordo.

            Nesse porto o navio ficaria dois dias. Foi a primeira parada dessa viagem de lazer para os outros passageiros. No trajeto já vencido, a maior parte foi filmada no convés, tendo o mar como fundo, um esplendido cenário. Atracou às oito horas no Pará. Depois do desjejum, Lau já embarcado, foi para o convés tentando reconhecer qual era o grupo dos jogadores de pôquer. Vestia uma camisa Polo cujas mangas estampavam uma carta de baralho, um ás e um rei. Mal se deu conta de tantas filmagens acontecendo pelo convés.

            Propositalmente, ao passar junto a esses apontados jogadores, artistas que faziam o chamado Golpe de Mestre, um deles chamou a atenção dos demais e apontou a manga da  camisa do recém-embarcado. O Lau que contava com isso, viu e sorrindo aproximou-se perguntando se o haviam chamado. Assim enturmou-se com facilidade, sabendo que procuravam outros patos pelo caminho para o jogo da noite.

            Conhecedor de Belém, sua cidade, perguntaram-lhe de um bom lugar para mais tarde almoçarem, e que fosse típico. Nessa hora depois de alguns comentários o Lau convidou-os:

            Vamos Lá Em Casa.

            Surpresos com esse  convite, achando uma coisa inusitada  trocaram olhares, fizeram comentários, evitando dizer não. Desconhecendo os costumes da cidade, medo de desgostosos melindres, aceitaram a sugestão.

            No horário, tomaram um taxi.

            Chovia a cântaros e durante o trajeto comentavam as particularidades da cidade, os magníficos cenários naturais. Caia uma água torrencial e algo atingiu com forte impacto o capô do carro, levando os ocupantes à extrema aflição. Os convidados já vinham inquietos com as noticias dos assaltos no Brasil. O Lau e o motorista não se abalaram, mas viram a expressão do medo nos convidados.

            — Que foi, que sucede? Perguntaram a uma só voz. Olhavam para todo lado em sobressaltos.

            —  Não é nada, não. Foi a manga.

            — Não entenderam bulhufas. Olharam curiosamente para as mangas da camisa Polo que o  Lau vestia.

             O motorista vendo pelo espelho, falou p´ro Lau:

            — O Sr. Explica para eles que essa arborização da rua é formada por mangueiras.

            — É verdade... Tenham calma, foi a manga que caiu.

Prá que! Um deles chegou a puxar a manga da camisa do novo amigo!

            — Não, não. Vejam, estas árvores que cobrem a rua são mangueiras, mango, mango, vocês entendem?

            Muito admirados, depois de alguns minutos, chegavam ao portão de entrada do local.

            — Vamos entrar? Entrem, entrem, orientava o Lau.

            Surpresa! Viram pasmados tratar-se de um restaurante. Lá Em Casa, o famoso restaurante de Belém, cuja especialidade é o Pato No Tucupi. Não ficou dúvida, era muito sugestivo.

            Depois de alguns pãezinhos e um preparado de berinjela foi servido o esperado prato típico, Pato no Tucupi. Mesmo os assíduos frequentadores deixam escapar sua admiração pela iguaria.

            Esses convidados ficaram sem palavras. Apenas perguntavam o porquê dos lábios amortecidos.

            — Lau explicou que o tucupi é extraído de uma mandioca venenosa e junto com janibu e outros condimentos, da gostoso sabor ao pato e quase sempre ocasiona a dormência esperada nos lábios. Ela é o testemunho do pato bem preparado.

            — É veneno! Não tem perigo?

            — Até agora não morreu ninguém. Se ingerido seu caldo puro, antes do descanso é realmente venenoso.

            — Descanso de quem, da gente?

            — Ai meu Deus! Do caldo extraído, claro!    Seu preparo exige muita atenção e conhecimento.

Nada escapava do cinegrafista Barreto e suas câmeras, escondidas registravam todos os acontecimentos.

            Depois do jantar que aconteceu no navio, organizaram a mesa do pôquer. Sorteados os lugares, se posicionaram, receberam as fichas, ou seja, o cacife que era registrado como débito na conta de cada um.

            Iniciou o jogo quem tirou a carta maior. Lau, acostumado com o desenrolar das jogadas, assustou-se presenciando logo no inicio um atrevimento inusitado nas apostas. Não podia demonstrar fraqueza, acompanhava sempre que seu jogo permitia. No mínimo determinava acompanhar com dois pares.

            Ganha, perde, perde, ganha. Perde, perde, perdeu muito. Na manhã seguinte, de novo grandes comentários no convés, junto à piscina. Bem pensou, foi a primeira noite. Hoje vou mudar meu jogo, aplicar aquele golpe.

            O Robson, um dos jogadores, balançando a cabeça disse para que todos escutassem:

— MEU NOVO AMIGO LAU. NÃO FOSSE UM FILME, HOJE COM SUA PERDA DE ONTEM  ESTARIA ENCHENDO A CARA...  NÃO É?

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