O
MISTÉRIO DO BAÚ QUE VEIO DO MAR
Oswaldo
Romano
Sempre eu era
visitado por um vendedor no Guarujá, onde mantenho apartamento de lazer no
Edifício Oscar, na praia de Astúrias, reduto na época dos tenistas. A visita
era feita pelo simpático navegante Luiz Coelho.
Tinha e oferecia bebidas desejadas pela
maioria dos homens. Seu preço era bom, e aceitava ofertas à vista. Acabei
enriquecendo minha adega, tantos eram os diferenciados rótulos, com destaque
dos whisky’s: Miltonduff, Glen Elgin, Loungmorn, Jura, e até o japonês
Yamazaki.
Era gostoso ouvi-lo falar do estilo
encorpado, no nariz é profundo e rico, frutado, teor defumado em fogueira na
praia, confinando principalmente à parte superior do palato.
Festejávamos na praia das Astúrias,
enquanto cada um aguardava sua vez de entrar na quadra de tênis, montada na
areia mais dura.
Era permitido ainda armar barracas, e
na do Renato, a nossa, fazíamos uma festa só, sempre chamando um cantante de
violão, quando não, acompanhado de um sax.
Certo dia levantei na aurora e fui
correr na praia, areia ainda lisinha, segui ate seu fim, lá pelas pedras das
tartarugas. O sol apontava, mas não foi só ele! Apontava também um pequeno
barco vindo da direção do porto. Três pessoas a bordo e para minha surpresa
quem vejo? Nada menos que o Luiz Coelho com seu barco forrado de caixas de
whisky!
O medo dessa procedência, naquela hora,
deu-me logo cedo à sensação de cana. Claro que era contrabando, senão roubo de
tripulantes dos navios. Grudavam no casco e lá do convés jogavam as caixas no
mar onde eram recolhidas pelo bote. Estava explicado o mau estado dos rótulos!
A imprensa anunciava nesses dias de atracação, a constante vigia da Polícia
Marítima, buscando os ladros e seus receptadores. Naqueles dias, com qualquer
roubo o culpado pego, desaparecia.
Luiz Coelho assustado comigo ali, pediu
calma e logo apresentou um álibi. Fiquei escutando: — Amanhã, logo após os
tenistas descerem do Tendas, vou fazer uma surpresa.
— Outra? Perguntei.
— Vou soltar no mar na corrente da
praia, dentro de um baú, uma caixa de whisky na direção da sua barraca. Fique
de olho. O achado vai justificar as bebidas.
— Porque no baú? Perguntei.
— É baú de plástico, flutua e proteje,
molha menos.
Voltei mais rápido,
sensação de culpado e estar sendo seguido.
O Edifício Tendas foi construído por familiares
de tenistas, também clientes do Coelho, e apreciadores dos seus preços! Agora prevenidos
aguardavam o que vinha pelo mar. Não demorou apareceu o baú pulando ondas até a
areia. Foi logo recolhido, seu tampo violado, ou melhor, dilacerado e a vista de muitos, certamente também presente
algum alcaguete da Polícia Marítima a serviço da ditadura. Ali, aparecia com
frequência volumes jogados por contrabandistas quando apertados em alto mar.
Foi uma importante prova que justificava nossa provisão de
bebidas na barraca.
— Ah... Esse seu Luiz, seu Luiz
Coelho... Como o malandro era rápido no
gatilho, correr do pega então...
Um suposto policial,
perdeu a oportunidade de matar dois coelhos de uma só cajadada: O
contrabandista e o receptador.
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