domingo, 14 de abril de 2013

TELEFONEMA DA DELEGACIA DE POLICIA. - Mario Augusto M. Pinto





TELEFONEMA DA DELEGACIA DE POLICIA.
Mario Augusto M. Pinto

Quando ainda criança Chris pediu a proteção de um Anjo da Guarda porque tinha sonhos muito ruins. Desde então estou sempre ao seu lado.

Quem sou? Sou Izael.
Profissão: Anjo da Guarda.
Função: proteger pessoas.
Pessoa protegida: Chris Patterson.
Onde: Austin, Texas, U.S.A., fazendo doutoramento em Neurocirurgia.

Agora por que tanta proteção? Porque tempos atrás Chris mal conseguia dormir e isso prejudicava seu descanso e comprometia seu desempenho nos plantões que dá no hospital. É muito desgastante. Acontecia que em diferentes noites Chris recebia telefonemas transmitindo, de cada vez, um pequeno trecho da mesma canção.  Resolveu analisar o que acontecia e descobriu a ligação entre as frases, entre os versos da canção cantados de cada vez. Era assim:

Um dia:      If you want, I will be there.
Noutro:       If you need me, I will be there.
Noutra vez:           I will be around…

Ao final era cantada a música por inteiro.

Certa noite prestou atenção dobrada na frase cantada, tomou a iniciativa e disse: escuta aqui, boboca, para com essa bobagem ou vou à Polícia! E os telefonemas cessaram, mas por via das dúvidas registrou queixa no Distrito Policial.

Hoje, Chris está indo a esse mesmo Distrito devido a um telefonema pessoal do Delegado pedindo sua presença com urgência.

Após as apresentações e cumprimentos, o Delegado Fultton disse:

-Lembra-se de ter registrado queixa por telefonemas anónimos há alguns meses?

-Sim.

-Bem, temos aqui uma turminha de jovens que faz telefonemas anônimos noturnos. Queremos que ouça suas vozes e procure identificá-las com as que ouviu no passado.
-Delegado, não creio ser possível. É que as vozes que eu ouvia – de um cantor e uma cantora – estavam gravadas num CD que pode ser comprado por qualquer pessoa. Daí que não dá para identificar.

O Delegado Fultton concordou, mas não ficou nada satisfeito com a resposta e não escondeu seu descontentamento. Despediu-se abruptamente sem ao menos agradecer dizendo:

-Se precisar, estou às ordens. Este é meu cartão; tem meu nome e telefones.

Depois de várias semanas de sossego e noites bem dormidas a recém-nova rotina de Chris foi alterada: recomeçaram os telefonemas.

Para não ser acordada várias vezes durante a noite, passou a não desligar o celular, regulou o som no volume mínimo e colocou o aparelho debaixo de uma almofada. Assim conseguia dormir.

Conhecem o ditado que diz que a curiosidade matou o rato? Claro, pois bem: após  vários dias e chamadas, Chris resolveu escutar o telefonema de hoje que transmitia uma estrofe completa que dizia:

I just called to say I love you
I just called to say how much I care
I just called to say I love you
And I mean from the botton of my heart.

Chris lembrou-se da canção e do cantor:  I just called to say I  love you;  Steve Wonder.

Ficou contente. Dizia:

-Formidável! Espetacular! Sou objeto da admiração de alguém.

Tomou uma decisão: escutar os telefonemas e ao fim da canção diria bem alto para o outro lado da linha:

-Deixa de bobagem! Vem me ver. Estou esperando por Você! Vem, vem logo!!!

Mario Augusto Machado Pinto                            12-04-2.013
marioamp@terra.com.br

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